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24.11.09




tintas, cores, dores










Alma apedrejada

vergonha de atitudes recentes,
vergonha de atitudes passadas, que na verdade começam a passar para trás agora.
atitudes minhas, impulsivas, desesperadas.
Tenho culpa sim, errei sim, disse sim talvez, mas não ameacei, tentei, disse que queria. Esperava no mínimo cumplicidade, achava que era amada só por vc, por isso lhe confiava meus maiores pesadelos.
Ao ver que perderia, por ser tão triste, fiquei mais triste,
talvez louca: tarja preta c álcool?
talvez doente?
merecia ser tachada de pisicopata?
amei demais?
ou fui amada de muito menos?
por todos? ou só por vc?
só sei que foi vc e ela os únicos que não me foram cúmplices, leais.
amor desrespeitado enlouquece, ele pode não ser amado de volta, mas se o amor perde a honra e a moral, ele se torna ódio.
Lembrando do meu passado, só sinto vergonha, porque o que as pessoas viam eram as ações de fora, sem saber os motivos de dentro.
não consigo parar de pensar, não consigo parar meu sofrer
não confio mais
são todas que aparecem


16.11.09

saudade de ler...
que bom:
as férias estão chegando, espero ter tempo para leitura, para a criatividade.
A prisão da ansiedade é a dieta, e o castigo são as dores no corpo.
Entre creche, espaço romântico, carpa/truta,
horto, escultura, resina, a triste notícia, odesespero da dor,
truta novamente, emprego, natura, sebrai. Encontro o grande amor por minha família, a vontade martelante de vencer.
Muda a programação do dia, diante de mais um problema.
A mente nessa hora passeia, pensamentos inúteis:
mágoas passadas, desamores, desamizades, as pazes, conhecimento, experiências,
a vitória de saber que eu estava certa.
O elogio no ensaio: "Muito bom, é isso aí Gabriele, você vem crescendo bastante, estou gostando muito do caminho que você está dando no seu personagem.", "Muito bom, muito bom, gostei de como você está fazendo sua entrada no bar.","Muito bem Gabriele, é isso mesmo.","Nesse final agora você está evoluindo a cada dia muito bem."
Ela dobrou o ator, o diretor.

começo do medo
11 dias
1 fim de semana
muitos itens para acertar
ansiedade
sonho
experiência
pedras e pedras para superar
realismo
feriado
vou acampar

15.11.09

Machado de Assis

A mosca azul


Era uma mosca azul, asas de ouro e granada,
Filha da China ou do Indostão.
Que entre as folhas brotou de uma rosa encarnada.
Em certa noite de verão.


E zumbia, e voava, e voava, e zumbia,
Refulgindo ao clarão do sol
E da lua — melhor do que refulgiria
Um brilhante do Grão-Mogol.


Um poleá que a viu, espantado e tristonho,
Um poleá lhe perguntou:
— "Mosca, esse refulgir, que mais parece um sonho,
Dize, quem foi que te ensinou?"


Então ela, voando e revoando, disse:
— "Eu sou a vida, eu sou a flor
Das graças, o padrão da eterna meninice,
E mais a glória, e mais o amor".


E ele deixou-se estar a contemplá-la, mudo
E tranqüilo, como um faquir,
Como alguém que ficou deslembrado de tudo,
Sem comparar, nem refletir.


Entre as asas do inseto a voltear no espaço,
Uma coisa me pareceu
Que surdia, com todo o resplendor de um paço,
Eu vi um rosto que era o seu.


Era ele, era um rei, o rei de Cachemira,
Que tinha sobre o colo nu
Um imenso colar de opala, e uma safira
Tirada ao corpo de Vixnu.


Cem mulheres em flor, cem nairas superfinas,
Aos pés dele, no liso chão,
Espreguiçam sorrindo as suas graças finas,
E todo o amor que têm lhe dão.


Mudos, graves, de pé, cem etíopes feios,
Com grandes leques de avestruz,
Refrescam-lhes de manso os aromados seios.
Voluptuosamente nus.


Vinha a glória depois; — quatorze reis vencidos,
E enfim as páreas triunfais
De trezentas nações, e os parabéns unidos
Das coroas ocidentais.


Mas o melhor de tudo é que no rosto aberto
Das mulheres e dos varões,
Como em água que deixa o fundo descoberto,
Via limpos os corações.


Então ele, estendendo a mão calosa e tosca.
Afeita a só carpintejar,
Com um gesto pegou na fulgurante mosca,
Curioso de a examinar.


Quis vê-la, quis saber a causa do mistério.
E, fechando-a na mão, sorriu
De contente, ao pensar que ali tinha um império,
E para casa se partiu.


Alvoroçado chega, examina, e parece
Que se houve nessa ocupação
Miudamente, como um homem que quisesse
Dissecar a sua ilusão.


Dissecou-a, a tal ponto, e com tal arte, que ela,
Rota, baça, nojenta, vil
Sucumbiu; e com isto esvaiu-se-lhe aquela
Visão fantástica e sutil.


Hoje quando ele aí cai, de áloe e cardamomo
Na cabeça, com ar taful
Dizem que ensandeceu e que não sabe como
Perdeu a sua mosca azul.

Um pouco egocêntrico:
o querer...
escolher e ir
escrever, dirigir, atuar, ensinar, criticar, produzir, transformar, cantar?
vencer artísticamente engajada!
Transformar encantando o mundo.

14.11.09

Carlos Drummond de Andrade

AUSÊNCIA

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.



O Poeta é um fingidor!

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